
O MAM, no momento de comemoração dos seu sessenta anos e coerente com sua integração com o parque municipal mais querido da cidade, em boa hora permitem a São Paulo se reencontrar e se e se emocionar com a presença de Frans Krajcberg .
Durante os séculos, a questão ambiental era vista como solução e não como problema.
Uma solução mágica, praticamente divina, e que era patrocinada pelas mais influentes visões religiosas como: "o homem e a mulher receberam do alto permissão para utilizar os recursos naturais para sua sobrevivência."

E sempre foi assim. Apesar de poucos visionários,santos ou poetas,pregarem no deserto,apesar de alguns desastres(Groelândia, Islândia, Ilha de Páscoa e etc.)darem sinal de alerta.
O capitalismo e o socialismo nos dois últimos séculos se comportaram como irmãos siameses nesses assuntos. O meio ambiente parecia ter recursos infinitos e inesgotáveis a nossa disposição.
Foi no final do século passado que a ONU começou a articular de maneira sistemática uma política publica chamada “defesa do equilíbrio ambiental” ou “defesa do meio ambiente” ou “desenvolvimento sustentável”
Nesse momento de emergência da nova consciência, aparecem homens como Frans Krajcberg, herdeiro daqueles poetas e santos que pregaram no deserto

Como o equilíbrio ambiental é uma nova forma de viver e conviver, a arte tem um papel impar de falar a alma, a mente, ao coração.
Como vivemos numa democracia, as ações de educação ambiental, de dialogo ambiental através da arte, são fundamentais para nos movermos na direção da sustentabilidade.
Krajcberg traz consigo um manifesto se opondo ao que estamos fazendo com a natureza hoje e a falta de consciencia sobre as consequencias que ocorrerão no futuro.
"Amazônia constitui hoje, sobre o nosso planeta, o "último reservatório", refúgio da natureza integral. Que tipo de arte, qual sistema de linguagem pode suscitar uma tal ambiência - excepcional sob todos os pontos de vista, exorbitante em relação ao senso comum? Um naturalismo do tipo essencialista e fundamental, que se opõe ao realismo e à própria continuidade da tradição realista, do espirito realista, além da sucessão de seus estilos e de suas formas. O espirito do realismo em toda a historia da arte não é o espirito da pura constatação, o testemunho da disponibilidade afetiva. O espirito do realismo é a metáfora; o realismo é, na verdade, a metáfora do poder: poder religioso, poder do dinheiro na época da Renascença, em seguida poder politico, realismo burguês, realismo socialista, poder da sociedade de consumo com a pop-art. O naturalismo não é metafórico. Não traduz nenhuma vontade de poder, mas sim um outro estado de sensibilidade, uma maior abertura de consciência.
A tendência à objetividade do "constatado" traduz uma disciplina da percepção, uma plena disponibilidade para a mensagem direta e espontânea dos dados imediatos da consciência. Como no jornalismo, mas sendo este transferido ao domínio da sensibilidade pura, "o naturalismo é a informação sensível sobre a natureza". Praticar esta disponibilidade ante o natural concedido é admitir a modéstia da percepção humana e suas próprias limitações, em relação a um todo que é um fim em si. Essa disciplina na conscientização de seus próprios limites é a qualidade primeira do bom repórter : é assim que ele pode transmitir aquilo que vê - "desnaturando" o menos possível os fatos.
O naturalismo assim concebido implica não somente maior disciplina da percepção, mas também maior na abertura humana. No final das contas a natureza é, e ela nos ultrapassa dentro da percepção de sua própria duração. Porém, no espaço-tempo da vida de um homem, a natureza é a medida de sua consciência e de sua sensibilidade. O naturalismo integral é alérgico a todo tipo de poder ou de metáfora de poder. O único poder que ele reconhece é o, poder purificador e catártico da imaginação a serviço da sensibilidade, e jamais o poder abusivo da sociedade..."
Judeu polonês, nascido em Kozienice, ele foi oficial do exército da Polônia, durante a segunda guerra, entre 1941 e 1945, período em que perdeu toda a família nos campos de concentração nazistas. Engenheiro formado pela Universidade de Leningrado, ele se mudou para a Alemanha depois da guerra e ingressou na Academia de Belas Artes de Stuttgart onde foi aluno de Willy Baumeister. Mas a arte não foi suficiente para ele sublimar a sua revolta. Era preciso partir da Europa, escapar das lembranças da barba rie.
Ele emigrou para São Paulo, onde participou da Primeira Bienal Internacional de Arte Contemporânea, expondo duas pinturas e logo depois mudou-se para o Paraná trabalhando como engenheiro em uma fábrica de papel. Mas, a partir dos anos 50, arte e natureza se juntaram definitivamente para ele, como dois cipós entrelaçados. Ele abandonou o emprego, isolou-se nas matas paranaenses para pintar e assumiu seu destino de « intérprete da natureza ». Mas sempre fez questão de ser “um homem revoltado” e associou os horrores do nazismo à destruição do meio ambiente, para não esquecer que o ser humano é capaz do pior.
Frans Krajcberg gosta de dizer que foi salvo pela natureza. Ele voltou a se sentir livre em contato com a exuberância da mata brasileira que ele descobriu « fugindo dos homens » em 1948.
Fontes:
Grupo:
ANDRÉ CURI
THIAGO AFONSO